Sua pele não era delicada e nem macia como a de um bebê. Suas mãos, já calejadas pelo tempo, pareciam mãos de um homem viril, acostumado com o batente e a carga de trabalho de todos os dias. Seus olhos vinham acompanhados de imensas bolsas roxas, seu olhar era vago e triste, mas seu sorriso demonstrava esperança. Uma mínima esperança que fosse, mas ainda era esperança. Seus olhos, nariz e boca se encaixavam, e se seu rosto não fosse de uma feição tão forte e máscula, poderia ser facilmente confundida com uma moça rica, só um pouco mal cuidada.
Não se sabe muito bem quem era. Perdeu os pais cedo, e com 16 anos, já tinha responsabilidades como cuidar dos irmãos mais novos. O primogênito já havia deixado a família, em busca de dinheiro para cuidar dos irmãos. Refugiara-se para a cidade grande, não sabendo ao certo se realmente buscava dinheiro ou se deixava a família ao relento. O pouco dinheiro que mandava era recebido pela jovem, e imediatamente gasto com remédios e alguns alimentos.
Foi quando o primeiro irmão morreu. De fome, mirrado, judiado pela fome. Depois o outro, e o outro, e mais um... O irmão mais velho já não escrevia, e nem dava notícias. Não mandava a mínima quantia que pouco ajudava nas despesas. A casa já não tinha luz, gás. O banho era frio e rápido, para não gastar a pouca água que ainda restava da chuva da semana passada. E ela, cada vez mais magra e pálida, o corpo frágil e, cada dia, tirando da própria boca para dar a alguns poucos irmãos que ainda restavam. Seu olhar era um olhar de amar. Um olhar de amar tão grande, tão infinito, que se perdia dos olhos de quem ousasse duvidar.
Certa manhã, o sol não nasceu tão belo. Uma imensa nuvem negra cobria a pequena plantação e a casinha de madeira, já despencando. Chamou as duas crianças para o café: metade de um pão para as duas dividirem e leite de vaca, puro, tirado daquela criatura que mal mugia no quintal. As crianças não vieram. Ao chegar no quarto, seus olhos não queriam acreditar no que viam. Mas a realidade havia chegado, e não havia mais nada a ser feito.
Encostou-se na parede do quarto e abaixou-se, sentando-se encolhida embaixo da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Apesar de tudo, nunca tinha perdido a fé. Adormeceu olhando para a imagem da santa. Um sono profundo, um sono de paz, o sono que mais a descansou e livrou de problemas. E ficou ali, para sempre, sonhando um encontro com Deus.
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