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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Urgente: nota de pesar


Hoje, às 02 horas e 09 minutos O Amor foi assassinado brutalmente no lado direito de um coração. O assassino confesso já foi detido e, segundo seu depoimento, matou O Amor porque A Confiança e A Verdade lhe faltaram durante seu relacionamento com o morto. Com a morte do Amor, A Felicidade, parente mais próxima da vítima, resolveu partir e A Dor alojou-se em seu lugar, também de luto. O coração, local do crime, encontra-se cheio de Desesperança, Tristeza e, agora, também cheio de Dor. Nossos cumprimentos à família e aos amigos do morto. Amor, descanse em Paz.

sábado, 28 de maio de 2011

Passado.

Às vezes, quando você se depara com o seu passado, pode acabar percebendo que ainda não o deixou ir. E dificilmente fará isso. É perigoso pensar que o passado fica pra trás, porque, um dia, você simplesmente dá de cara com ele, e então pode ser tarde demais. Palavras não ditas, sonhos não realizados e momentos evitados podem te fazer ver que sua vida não foi exatamente o que devia ser. Ou o que você acha que devia. O fato é que nós, ao pensar no passado como algo deixado pra trás, nos esquecemos que, naquele tempo, amávamos, queríamos, desejávamos. E agora, tarde demais pra tentar mais uma vez, pra dizer o que se sentia e querer fazer acontecer, o passado vem ao presente de uma forma que nunca ninguém deseja, com a sensação de que você poderia ter mudado a sua história.
Às vezes, quando você se depara com o seu passado, pode acabar percebendo que ainda não o deixou ir. E dificilmente você não sofrerá no presente pelo seu futuro que nunca virá.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ALL YOU NEED IS LOVE

domingo, 23 de maio de 2010

Queria mais

Ela queria mais. Mais do que todos aparentavam poder dar. Mais do que a vida lhe ensinara, mais vida, em si. Queria felicidade plena, e motivos plenos para essa felicidade.

Ela queria mais do que um simples olhar. Queria abraços, beijos, carinhos. (Abraços fortes, beijos roubados e carinhos verdadeiros.) Queria mais atenção, sem que precisasse ser o centro das atenções de todos.
Só queria uma vida, já que não considerava o que tinha como uma. Considerava tudo que vivia uma rotina, que se repetia de domingo a domingo. Sem mudanças, sem novas restrições ou novas permissões. Queria ser mais cobrada por outros motivos, sentir outras emoções e sentir-se nova, bela, transformada.
Preferia mutações. Preferia novos pensamentos a cada momento, e a estagnação realmente lhe incomodava.
Então, um dia resolveu mudar. Pegou suas coisas e seu currículo de sobrevivência no mundo dos homens, currículo esse que não carregava assim tantas experiências. Mudou-se para algum lugar, tornou-se alguém que não se sabe quem.
Foi-se, e não se sabe do seu paradeiro. Supõe-se que agora, seja plena e feliz, como sempre quis. Porque ao seu lugar de origem, não voltou mais.

sábado, 22 de maio de 2010

Família de ninguém

Sua pele não era delicada e nem macia como a de um bebê. Suas mãos, já calejadas pelo tempo, pareciam mãos de um homem viril, acostumado com o batente e a carga de trabalho de todos os dias. Seus olhos vinham acompanhados de imensas bolsas roxas, seu olhar era vago e triste, mas seu sorriso demonstrava esperança. Uma mínima esperança que fosse, mas ainda era esperança. Seus olhos, nariz e boca se encaixavam, e se seu rosto não fosse de uma feição tão forte e máscula, poderia ser facilmente confundida com uma moça rica, só um pouco mal cuidada.



Não se sabe muito bem quem era. Perdeu os pais cedo, e com 16 anos, já tinha responsabilidades como cuidar dos irmãos mais novos. O primogênito já havia deixado a família, em busca de dinheiro para cuidar dos irmãos. Refugiara-se para a cidade grande, não sabendo ao certo se realmente buscava dinheiro ou se deixava a família ao relento. O pouco dinheiro que mandava era recebido pela jovem, e imediatamente gasto com remédios e alguns alimentos.


Foi quando o primeiro irmão morreu. De fome, mirrado, judiado pela fome. Depois o outro, e o outro, e mais um... O irmão mais velho já não escrevia, e nem dava notícias. Não mandava a mínima quantia que pouco ajudava nas despesas. A casa já não tinha luz, gás. O banho era frio e rápido, para não gastar a pouca água que ainda restava da chuva da semana passada. E ela, cada vez mais magra e pálida, o corpo frágil e, cada dia, tirando da própria boca para dar a alguns poucos irmãos que ainda restavam. Seu olhar era um olhar de amar. Um olhar de amar tão grande, tão infinito, que se perdia dos olhos de quem ousasse duvidar.


Certa manhã, o sol não nasceu tão belo. Uma imensa nuvem negra cobria a pequena plantação e a casinha de madeira, já despencando. Chamou as duas crianças para o café: metade de um pão para as duas dividirem e leite de vaca, puro, tirado daquela criatura que mal mugia no quintal. As crianças não vieram. Ao chegar no quarto, seus olhos não queriam acreditar no que viam. Mas a realidade havia chegado, e não havia mais nada a ser feito.


Encostou-se na parede do quarto e abaixou-se, sentando-se encolhida embaixo da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Apesar de tudo, nunca tinha perdido a fé. Adormeceu olhando para a imagem da santa. Um sono profundo, um sono de paz, o sono que mais a descansou e livrou de problemas. E ficou ali, para sempre, sonhando um encontro com Deus.

domingo, 2 de maio de 2010

Em prol de mocinhas felizes. E de escolhas, felizes também.

Qual é o problema que as pessoas tem ao amar o desconhecido? Por que só o bonito, o forte, o ideal deve ser amado? Espera-se que os príncipes encantados venham resgastar as mocinhas dos castelos e as levem em seu cavalo branco para seu castelo. E na realidade, quando o príncipe é um sapo, um lobo mau ou um pouco pior que isso, é esperado que a mocinha se afaste e volte a esperar o príncipe. Por quê?
Toda mocinha que se preze (e toda a família de toda mocinha, diga-se de passagem) se decepciona quando o príncipe não vem. "Espere mais um pouco...", uns dizem. "Calma, tem tantos peixes no oceano...", ou até "Ele não é pra você: feio demais, esquisito, não é de família conhecida e já bombou duas vezes!". Como se o caráter de alguma pessoa estivesse definido na aparência, no time de futebol pro qual torce ou pra quantas garotas ele namorou antes. A família pode até ser levada em conta, mas até que ponto isso influencia realmente? Nada vai influenciar no modo de amar desses jovens, e quem sabe, um incentivo contra vai ser ainda pior.
Será que ninguém percebeu que estamos no mundo real? O que pode acontecer, no máximo, é o ficante da mocinha ir buscá-la num carro branco. Se ele tiver carro. E se ainda não tiver batido o próprio carro no poste que "entrou na frente do carro" depois daquela festa.
Não devia mais se esperar príncipes em cavalos brancos. Não devia mais se esperar que se amasse o esperado. O esperado já não tem graça para a maioria de nós, homens ou mulheres, que esperamos um pouco mais de cada um, e muito mais de todos. Só falta todos caírem na real. As mocinhas e as famílias delas.
Não se arruma mais namorado como antigamente e nem se namora como antes. Donzelas já não se casam donzelas (com o perdão do trocadilho infame), a maioria dos príncipes virou sapo (na opinião dos pais, claro) e o mundo se adaptou. Por que então as famílias ainda insistem em viver na era medieval?O diferente também pode (e deve) ser amado, aceitado, louvado. E deve entrar pra família que ainda segue os dogmas tradicionais. Por que não amá-lo? Porque ele é diferente, porque não se veste como a gente, porque não mora no mesmo lugar, porque não se expressa como nós e porque não se sabe nada sobre ele. Pobre mocinha indefesa! Sua família ainda não sabe que ela já se tornara mulher, que ela quer tomar suas próprias decisões e que, mesmo que ela não saiba onde está se metendo, tem consciência de que o terreno é perigoso, mas já é segura de si mesma. Ainda que ela precise da família acima de tudo, ela sabe que as pessoas, as opiniões e os tempos mudam. As escolhas também.
Todo mundo tem seu direito de voltar atrás, e mesmo a mocinha não entendendo nada de leis, ela sabe que é seu direito chorar, odiar, se revoltar, suplicar, voltar atrás e... amar. Mesmo que ela não ame quem todos esperem que seja seu predestinado, ela tem o direito de amar.
O diferente ainda assusta os mais desavisados. E num mundo onde as diferenças já são bem maiores do que a igualdade, o que assusta mesmo é que ainda existam pessoas que pensam assim.
Príncipes encantados não existem. E nem todos os caras são sapos. Basta dar espaço aos caras de hoje, porque eles podem até errar mais do que acertam, mas ainda há acertos. E enquanto houverem acertos, as mocinhas ainda podem ser muito felizes.

sábado, 10 de abril de 2010

Saudades.

Saudade do tempo, da alegria, do vento na cara, esvoaçando os cabelos e fazendo sorrir; saudade do amor, do calor, do toque e do contato; saudade da velha amizade, das brigas inúteis, dos tapas mal dados e das risadas incontroláveis; saudade até da nova amizade, que se encontra sempre, mas que ainda assim, faz falta... e dá saudade; saudade da velha paz interior, do sentimento de que está se fazendo certo, do sentimento certo, do doce amor sem maldade; saudade do mundo como era, saudade do que era bom, e só bom; saudade do sentimento de família, de unidade, da sensação de plenitude no que se vive e no que se faz; saudade daquela garra, da vontade de ser alguém, saudade de ter na mente a decisão sobre o que se vai fazer depois.



Saudade.


Me dirijo à pessoas específicas, e ainda assim, fazem parte de um todo. Me dirijo a quilômetros de distância, e a poucos metros. Me dirijo ao interior, ao exterior, me dirijo a mim.


Saudade de sentir saudade de um modo avassalador, de um modo dolorido, de um modo arisco, com medo de tudo. Saudade de não desejar sentir algo a mais, saudade de ser o que era, sem medo de arriscar ou de usar palavras nuas e cruas.


É só saudade.


E com o passar dos dias, a saudade aumenta, a dor aumenta, a tristeza dói. E contraditoriamente, tudo é anestesiado. Com a esperança de que, mais cedo ou mais tarde, vai passar.


A saudade íntima, a dor forte e a vontade de viver tudo novamente, vão ficar. Um ou dois dias depois, vai voltar. Mas ainda assim, querer sentir novamente não é pecado. Pelo contrário. É amor, e no amor não há pecado. Há esperança.


E a esperança é o único motivo que me move. Que ainda me tira do lugar. Que ainda me deixa pensar que aquela amiga de anos vai ser a mesma; que a saudade interior se torna tão íntima que quase some dentro de si mesmo; que a amiga de pouco tempo logo vai voltar pra curar as mágoas. E que aí, então, tudo vai ser como era antes. Talvez melhor.


Ainda há esperança pra saudade.